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Corinthians: Retrospectiva, DNA Defensivo e Resultadismo.

Desde que me entendo por gente e que acompanho e torço pelo alvinegro paulista, já vi muita coisa que me encheu os olhos e muita coisa que deu vontade de chorar. Muita coisa certa e muita coisa errada. Muito erro crasso e muito acerto. É bem verdade que o “time do povo”, como é comumente chamado, alçou-se enquanto grande no cenário nacional de forma consolidada após os anos 90, sobretudo com o time que ganhou o mundialito de 2000 na figura de Rincón, Marcelinho, Ricardinho e Luizão.


Entretanto, somente após o primeiro rebaixamento corintiano (2007) é que tomou forma um projeto ambicioso, arrojado e multi-setorial. A ideia, a priori, era de transformar o Corinthians em uma marca internacional, galgando vagarosamente todas as escalas de atuação para a valorização da marca. Porém como fazer isto com um time recém abandonado pela sua principal parceira econômica (a MSI, que diga-se de passagem, envolvida em diversos escândalos de lavagem de dinheiro e corrupção em geral)? Ronaldo, nesse sentido, foi fundamental. Mesmo longe de todo o potencial de entrega técnica de outrora, o fenômeno sobrou nos gramados brasileiros e garantiu, a partir de 2009, retornos das mais diversas ordens ao timão. A receita de bilheteria aumentou, os resultados com gols e atuações acima da média aconteceram de forma frequente e há inclusive quem diga que ele tem influência na tomada de decisão da construção do estádio corintiano para a abertura da Copa do Mundo de 2014.


Neste período, de 2008 até os dias de hoje (2019), o Corinthians teve oito treinadores em um intervalo de 11 anos. Considerando o cenário de futebol brasileiro e rotatividade dos técnicos, é um ponto fora da curva. Dos oito, apenas três se mantiveram por mais de um ano no cargo, são eles: Mano Menezes, Tite e Fábio Carille. Suas similaridades são notáveis. Desde 2008, a forma de jogar e o time que trouxe de volta à elite sob o comando de Mano é claramente organizado, pragmático e sólido defensivamente.


Essa “receita de bolo” rendeu ao sósia brasileiro de James Hetfield lançamento como treinador de seleção nacional, sem sucesso em trabalho abortado. Mais tarde, Tite chegaria para, dentro das mesmas bases em duas passagens, dar prosseguimento ao trabalho e acrescentar ao repertório o “algo a mais” que tanto se busca: criação, proposição e imposição. Resultado: campeão de tudo o que foi possível competir durante sua era, com o time de 2015 sendo expoente máximo da forma mais próxima do quese considerou um ideal balanço entre a forma sólida de jogo e ofensividade.


Carille, auxiliar técnico desde 2009 e efetivado em 2017, viu e participou de todo o processo de implantação por dentro e sabe como poucos orientar uma linha de defensores de forma organizada. O campeonato de 17 o alçou à posição consolidada de técnico, principalmente pela forma como foi conquistado, em meio a peças limitadas. Hoje, com material humano evidentemente mais qualificado, tenta dar forma a um elenco com mais de 15 chegadas em relação à última temporada, enfrentando o velho dilema corintiano: a partir de uma defesa sólida, como progredir ofensivamente? O próprio Carille reconhece e dá peso ao desempenho, diversas vezes citando o que há e precisa ser melhorado em sua equipe, no entanto esbarra em certo comodismo por parte da torcida.


O corintiano médio não se importa se o time ganha de 0.5, 1 ou 2 a zero. Se importa em ganhar, em poder zoar seu rival e gargantear os tabus construídos na arena, além da notável

capacidade do seu atual treinador de se reerguer nos momentos mais difíceis: os clássicos (inclusive frente ao Palmeiras, de elenco muito superior). Tal pensamento relega ao desempenho uma posição secundária, alternativa e de pouco valor frente ao resultado, que pode ser transmitida aos jogadores e até ao técnico caso o coro de “o que importa é ganhar” se encorpe, mesmo que seja a custo de se apequenar e brigar por uma bola.


Fato é que Carille se encontra hoje em uma mesma posição de longevidade como estiveram postos Mano e Tite, mas que somente o atual treinador da seleção conseguiu, após ano sabático, dar o salto de qualidade culminando com o time de 2015. Será o “Rei dos Clássicos”capaz de transpor a barreira que se impõe à sua frente? Ou o comodismo resultadista será a via crucis instável levada a cabo para busca de vitórias e títulos? Só o tempo dirá.


Autor: João Henrique Sousa

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